Repensando travessias: o fazer sociológico retrata a trajetória que fez de mim socióloga e da Sociologia minha vocação. Descobrir a Sociologia, ainda adolescente, foi descobrir um campo novo de conhecimento, uma vocação e a vontade de ser socióloga, que me acompanhou ao longo de toda uma existência, direcionou e direciona minha atuação até os dias atuais. A narrativa presente aponta como foi trilhado esse caminho, que decisões implicou e como estas definiram o direcionamento de uma carreira e de seus desdobramentos em termos de uma filosofia de atuação profissional.
Por que publicar um memorial? Moveu-me a vontade de transmitir a outros, sobretudo aos mais jovens, a vivência desse processo e da prática acadêmica que dele decorre, com suas conquistas, alegrias, dificuldades e percalços. Mas seria enganoso supor que o que se lê é uma trajetória apenas individual: ainda que seja a minha trajetória e que pesquisadores e professores construam individualmente suas histórias e seus espaços de trabalho, é fundamental que estes sejam pensados a partir de uma perspectiva mais abrangente de um grupo e, portanto, daquilo que pode uni-lo, desde as escolhas teóricas até a seleção dos objetos de pesquisa, como condições para a constituição de um denominador comum, de um campo de saber, de um espaço institucional. Assim, trata-se menos da minha história pessoal como socióloga e mais de como ela se insere em um campo de saber, com seus pertencimentos, distanciamentos, identificações, disputas e busca por reconhecimento. O texto reflete também a vontade de ressaltar o resultado altamente gratificante que é, ao olhar para trás, poder dizer, não sem uma ponta de orgulho: valeu a pena, e vale, ainda.
Com mudanças mínimas, este é o texto original, escrito entre o final de 2010 e o início de 2011: pela sua natureza e pelos objetivos visados – o compartilhamento com leitores anônimos desta experiência nos trilhos da aventura sociológica – julguei que apenas faria sentido disponibilizá-lo se mantidos seu sentido e significado originais.