Há quem considere o sofrimento como uma oportunidade de aprimoramento pessoal e até de construção de um legado. Mas acredito que melhor seria estar sentindo a brisa na praia, sem nenhuma pretensão, do que ouvindo instruções sobre procedimentos e intrusões. Na angústia desconcertante de não saber se ao acordar ainda poderá ouvir os apitos dos aparelhos ou sentir de novo a onda movendo a areia sob os pés. Mas já que as contingências a trouxeram até aqui, o único jeito é refletir, cutucar a ferida, pôr a bola a girar no espaço torcendo para que a terra fique mais bonita vista de um novo ângulo. Que é de longe mas também muito de dentro. Como Clarice Lispector afirmou "já que sou, o jeito é ser".
De dentro para fora e de fora para dentro, para lembrar que o encontro e os afetos são o que há de mais luxuoso na hotelaria de qualquer hospital. E que a mais nova descoberta científica não deve nunca se esquecer porque raios a humanidade quis ir atrás dela.
Maria Cristina de Medeiros (Médica)