Fernando Kinker convida à reflexão sobre a "emergência de novas formas de sociabilidade [...] que parte [...] da desconstrução de elementos da sociabilidade moderna centrada no trabalho e na mercadoria, e da crítica ao paradigma psiquiátrico", com base no percurso, de 1989 a 1996, do Núcleo do Trabalho da experiência santista de saúde mental. [...].
O autor propõe pensar junto, sintonizar e mesmo discordar, como buscou, ao pesquisar e escrever, "um dialogismo múltiplo, uma conversa infinita"; ancorado na cartografia e saber da experiência e no exercício da razão aberta, dialoga em um campo teórico denso – desinstitucionalização, complexidade, trabalho e sociabilidade –, embora não intencione inscrevê-lo como protagonista, sendo essa a prática na perspectiva basagliana.[...]
Por meio de seus capítulos inter-relacionados, plenos dos tempos vividos de 1989 a 1996, repletos de temáticas instigantes, este livro pode contribuir, como sugere o autor, com atores da reforma psiquiátrica e, em particular, com trabalhadores e pessoas que vivem experiências de sofrimento psíquico, os quais, juntos, criam conhecimentos e práticas nos "projetos de inserção no trabalho" ao promover, não obstante as adversidades, novas formas de trabalhar, conviver e viver. [...]
No marco dos trinta anos da intervenção no Hospital Anchieta, o livro constitui afetivo e pensante chamamento, bem-vindo nestes tempos sombrios, para cultivar vivificantes "sociabilidades e projetos coletivos de trabalho" inscritos nas práticas desinstitucionalizantes de reinvenção do presente.
Fernanda Nicacio - Professora doutora do curso de terapia ocupacional da Faculdade de Medicina da USP entre maio de 1988 e maio de 2019