Realismo, em literatura, é um conceito recorrente, múltiplo e muitas vezes contraditório. No Brasil, em que se convencionou chamar de realistas tanto o projeto literário de Machado de Assis quanto o seu contemporâneo naturalista, em que se destaca a obra de Aluísio Azevedo, a questão ganhou contornos também nacionais.
Tânia Pellegrini retoma as discussões e tensões entre realidade e realismo de teóricos como Roland Barthes, Raymond Williams, Ian Watt, Gÿorgy Lukács, entre tantos outros, navega pela literatura brasileira do século XIX e faz esse debate ressurgir em diversos momentos do século XX – nos escritores da Geração de Trinta, na literatura produzida durante a ditadura militar, nos projetos novamente realistas dos anos 2000.
Num país violento como o Brasil, o realismo literário cai como uma luva para a mão que afaga e apedreja. Assim, as violências da escravidão encontram seus ecos na exploração econômica da década de1930, na opressão explícita da ditadura militar e no cotidiano permanentemente massacrante expresso nas obras do século XXI.
Da introdução do método que buscava a verossimilhança em Alencar, passando pelos já citados Machado e Aluísio, mas também por Graciliano Ramos, Jorge Amado e José Lins do Rego, Rubem Fonseca, Renato Tapajós, Tânia chega até a violência gratuita dos recentes Marçal Aquino e Marcelino Freire.
Esta não é a primeira tentativa de se estabelecer as recorrências do realismo na literatura brasileira, mas é seguramente o estudo mais bem sucedido em discutir suas fundamentações teóricas, em discutir seus sucessos e fracassos e em explicar sua força, tanto social quanto literária.
Haroldo Ceravolo Sereza