Há quem busque a fuga ou a solução para angústias, frustrações e outras crises existenciais recorrendo a algum tipo de entorpecente, visitando assiduamente o psiquiatra, ou mesmo passando uma temporada num mosteiro tibetano. E também há aqueles que encontram na produção artística a sua principal válvula de escape. Creio que, após explorar a maior parte dos potenciais caminhos do labirinto de sua existência, Fabrício Oliveira – o primeiro amigo que tive na vida – reuniu as condições necessárias para escrever Realidades Ilusórias. Seria a obra uma espécie de autobiografia? Uma tentativa de promover a reconciliação consigo mesmo, com seus amigos e com seu mundo particular? Talvez sim, talvez não. O fato é que Realidades Ilusórias possui um forte cariz caleidoscópico, transdimensional e multissemiótico. Ou melhor: trata-se de uma obra aberta, composta a partir de uma sucessão de flashbacks narrados pelo nosso excêntrico protagonista, o renomado químico Enoque Laudares. Ao virar de cada página, o leitor é convidado a realizar uma intensa descoberta de sentidos, interpretações e significados possíveis acerca dos acontecimentos narrados e, até mesmo, a desvelar suas inúmeras contradições. Tudo isso ambientado por uma instigante trilha sonora e pelos efeitos ensejados pela presença de uma gama de recursos e inovações tecnológicas e científicas. É desse modo que o livro suscita, de maneira despretensiosa, o conceito de obra aberta, introduzido por Umberto Eco, já que estimula o leitor a construir diferentes pontos de vista face aos acontecimentos, desafiando o leitor a participar ativamente da produção de sentidos emanados pelo livro. Afinal, o processo de interpretação é algo bastante pessoal e singular, variando de pessoa para pessoa, e depende das experiências de cada leitor, das suas expectativas, interesses, cultura, história, enfim, do seu infinito universo interior. Por tais razões, convido você, caro leitor, a aventurar-se pelo laboratório de experiências e sentidos vivenciados pelo nosso narrador-protagonista, que certamente conduzirão você à vereda mais próxima do autoconhecimento. Flaviane Faria Carvalho Jornalista e Doutora em Linguística Professora da Universidade Federal de Alfenas UNIFAL-MG Alfenas, 6 de Janeiro de 2016