Mais de 200 anos depois de sua extinção, a Real Fábrica de Ferro de Ipanema continua despertando o interesse científico. Pesquisadores, de diferentes especialidades, buscam compreender o que foi o empreendimento, que funcionou no Morro de Araçoiaba por quase um século. Fatos inéditos são revelados por Janete Gutierre, em "Real Fábrica de Ferro de Ipanema. A longa jornada para a produção de ferro no território que, depois de envenenado, quer manter uma floresta em pé". A narrativa direta, sem interpretações ou adjetivações, revela os personagens que mantiveram os Altos Fornos em funcionamento no Brasil, produzindo ferro em larga escala. Nascida na chegada da Família Real Portuguesa e em operação durante o Império do Brasil, a Real Fábrica de Ferro de Ipanema foi definitivamente encerrada pelos republicanos, que tentaram apagar as marcas da monarquia brasileira. Em mais de um século, produziu armas, engenhos, ferramentas agrícolas, utensílios domésticos e peças premiadas nas Feiras Universal da Europa e Estados Unidos. Mas nunca solucionou os problemas de distribuição, por falta de estradas e ferroviais, que exigiam longas viagens até o Porto de Santos e encareciam o preço final. Os Altos Fornos Geminados, o Forno de Mursa, os fornos de carvão em forma de colmeia e seis prédios vazios são a lembrança atual da existência da Real Fábrica de Ferro de Ipanema, em Iperó, no interior de São Paulo. A destruição do conjunto arquitetônico não impediu que a memória de inúmeras batalhas políticas, a favor e contra a siderurgia, se perdesse. Embora muitos documentos ainda não tenham sido descobertos, nem outros tenham sido devidamente interpretados. O maior empreendimento da Monarquia brasileira, a Real Fábrica de Ferro de Ipanema foi sufocada pelos interesses dos que se opunham à Pré-industria, acreditando que a vocação do Brasil não ia além da exploração extrativista e da agricultura, ambas para fins de exportação. Ao longo de um século, na história da Real Fábrica de Ferro de Ipanema, percebe-se o desprezo pelo nacional branco pobre, criando-se intencionalmente a desigualdade social, com a construção da ideia de que eles eram avessos ao trabalho pelos que defendiam que somente os europeus tinham capacidade e disciplina para contratos livres e assalariados. D. João VI e o fundador da Real Fábrica de Ferro de Ipanema, o sueco Carl Gustav Hedberg, foram derrotados no objetivo de iniciar um pequeno empreendimento, com a missão de formar uma mão-de- obra livre e assalariada, de nacionais pobres, que produziria em larga escala, mas que ganharia grandes proporções quando tivesse trabalhadores para o ofício de produção de ferro e a expansão do mercado consumidor. Uma nova relação com os africanos, na condição de escravos, foi moldada pelo Sueco, que os transformou em artífices do ferro, garantindo a manutenção da produção em qualquer adversidade. O Sueco sucumbiu às investidas do alemão Friedrich Ludwik Varnhagen, que queria Altos Fornos e um empreendimento gigantesco, mas garantiu pagamento de hora extra para os negros aos domingos e feriados religiosos, com promoções por mérito. Os altos custos para a manutenção, o pequeno mercado consumidor e a falta de vias para o escoamento da produção determinariam o futuro da Real Fábrica de Ferro de Ipanema. Repetidos à exaustão por um século, exigindo grandes gastos públicos, os problemas para o funcionamento da Real Fábrica de Ferro de Ipanema jamais fossem solucionados. O território da Real Fábrica de Ferro de Ipanema, depois de desenvolver ensaios agrícolas e testes de tratores e outros equipamentos do campo, passou a fazer parte da Floresta Nacional de Ipanema, criada em 20 de maio de 1992. Atualmente, está sob a administração do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, que integra a estrutura do Ministério do Meio Ambiente. "Real Fábrica de Ferro de Ipanema.