A Grande Depressão dos anos 30 do século passado fez surgir o mais hediondo regime político que o mundo já conheceu (o nazismo) e desencadeou a mais pestífera de todas as guerras. Porém, em termos absolutos, a crise econômica de 2008-2009 foi muito maior do que a Grande Depressão, em que pese seus males imediatos terem sido combatidos com maior eficácia. Isso significa que os desequilíbrios desencadeados pelo subprime foram proporcionalmente maiores. Resta saber o que a crise, que se tornou conhecida como Grande Recessão, desencadeará no longo prazo. Assim como não é possível dissociar as transformações desencadeadas pela 2ª Guerra da Grande Depressão, os grandes acontecimentos políticos e econômicos dos últimos anos guardam relações nem sempre explícitas, mas inegáveis, com a crise do subprime. As agitações no mundo islâmico, a guerra na Síria, o desarranjo das finanças públicas em vários países da Europa, a crise na Ucrânia são exemplos de fatos que, embora aparentemente dissociados da Grande Recessão de 2008-2009, num nível mais profundo, podem ser analisados em relação a ela. Os problemas do Brasil atual não são exceção. Em que pese as reformas em discussão no Congresso Nacional terem-se tornado necessárias em razão de desarranjos internos do país, as consequências da crise global são o contexto do qual elas não podem ser desligadas. Por isso, é urgente pensar as reformas não só em conexão com os problemas internos que as fazem necessárias, mas também no contexto econômico e político global. Se a conexão da conjuntura brasileira com esse contexto maior for reconhecida, a situação produzida pela Grande Recessão representará especial oportunidade para o Brasil realizar suas reformas, enfrentar mais eficazmente seus graves problemas históricos e completar seu processo de desenvolvimento. Mas, se ao revés a incapacidade de olhar mais longe e de enxergar o macro prevalecer, o país só entrará num ciclo virtuoso de desenvolvimento rebocado pela sorte.