Foi difícil convencer Lourenço a contar sua história, mas o isolamento imposto fez com que ele refletisse, e num gesto de coragem, mesmo indeciso, relatasse seus passos, muitas vezes apressado e outras vezes quase que parado, tinha medo de virar à esquerda ou direita. A escrita é de agora, mas há muito tempo a história já existia.
E quase sentindo confiança plena descreveu sua trajetória, esqueceu os medos, desmembrou seus problemas, assumiu seus defeitos, conseguiu encarar o espelho sem máscara em busca da resposta, conversou com os que foram, a fim de consolá-los, e disse "não leiam como se fosse um texto literário, mas sim como um apelo e um desabafo". Confiou em mim como se fosse o único ouvinte a quem entregaria sua vida, mesmo sabendo que a qualquer momento o mal maior o atingiria e todo sentimento acabaria, finalizando a história. Sem saber por onde começar, disse a ele "conte as primeiras coisas que lembrar". A partir daí colocaríamos em ordem dor, amor, realizações, frustrações, alegrias, tristezas, sonhos, realidades, esperanças, desesperanças, vida e morte.