"O poeta finge que é dor a dor que deveras sente", é a Psicografia de Fernando Pessoa. Já Flávia Frazão psicografa "um corpo vivo que abraçou meu corpo, desmaterializou-se no ar" aliviando em Quase Quarenta Quase Proibido a dor que tantos sentem. Este livro não é para qualquer um. Entende-se isso ao pensar no recentíssimo passado e ao ver o presente do Brasil: "Não é golpe, é fascismo com licença democrática; do estado democrático de direito a barbárie institucionalizou-se pelo voto direto". Este livro não é para qualquer um, pois o cansaço bate na cara. E se por um lado o desânimo forja o conformismo tolerante: "Não tenho mais vontade de lutar por esse povo", pois "quando todos estão cegos, a única pessoa que enxerga não gosta dos horrores que vê, e por isso sofre". Por outro, a poesia-alma forja o poema-ação: o "Brasil não é pra amadores". É assim que de uma série de páginas em branco, Flávia Frazão produz poema-poesia, a vida que salva. Enfim, Quase Quarenta Quase Proibido não é para qualquer um. É para os poucos quem têm coragem, pois "o governo não me desgoverna", proclama a autora a convidar-nos a conclamar com ela. Rubem Leite