A pesquisa de Saulo Dantas se destaca por ter sido feita de dentro para fora, a partir da militância dele no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, protagonista da investigação.
O saudoso Roberto Aguiar afirmou que um trabalho acadêmico somente adquire qualidade pela paixão que um pesquisador tem pelo tema, e é isso que o autor desta obra revela ao longo de todo o seu desenvolvimento.
É importante salientar que Saulo Dantas traz para o interior do texto a luta coletiva liderada por famílias Sem Terra acampadas e povos originários indígenas Pataxó hãhãhã de Pau Brasil, Tupinambás da Serra do Padeiro e Quilombolas da Casa do Boneco de Itacaré, sendo todos participantes e oriundos do mesmo território, ou seja, o Litoral Sul da Bahia.
Nosso autor trata como sujeitos da pesquisa e de direitos os coletivos representados que compõem a luta social, jurídica e política na defesa, promoção e reivindicação de direitos.
Nesta obra, Saulo Dantas percorre os caminhos da construção e disputa sobre o direito de propriedade privada no Brasil e na Bahia, e como as instituições do Sistema de Justiça, em especial o Poder Judiciário, decidem em favor daqueles que detêm poder e dinheiro, bem como contra aqueles que lutam pela terra para seu sustento e dignidade.
Por meio de uma observação participante e militante, o autor, em conjunto com as famílias Sem Terra, recebe a notícia neste ano de 2024 que a Justiça representada pela Comarca de Camacã-BA, além de reafirmar a manutenção da posse oriunda de uma ocupação de terras que teve início no ano 1999 – com mais de 10 (dez) despejos efetivados –, decidiu também reconhecer o crime de grilagem de terras realizado pelo latifúndio, revelando que, mesmo havendo tratamentos desiguais na maioria dos casos que chegam ao Judiciário, casos excepcionais e sui generis também podem acontecer, e esperamos que aconteçam mais e mais em todo o Brasil e o mundo.