Nos nove contos de Quando chega nossa vez acaba, Rafael Simeão compõe um mosaico de personagens cativantes, profundamente reais, de uma mesma vizinhança no Rio de Janeiro. Suas vidas, únicas e complexas, se entrelaçam em vibrantes sagas do cotidiano.
No conto que dá título à coletânea de Rafael Simeão, uma família que nunca pode tirar férias finalmente consegue alugar um pequeno cômodo em uma ilha turística. Dalva, a mãe, trabalha numa ótica, o dia todo de pé, e mal pode esperar pela aposentadoria. Jorge, o pai, é taxista e vê a classe sofrer com a ascensão dos aplicativos de mobilidade. Junin, o filho mais novo, é bom em matemática e totalmente sedentário. Amanda, a mais velha, entrou em uma universidade pública e está deslumbrada com o novo mundo à sua frente. Na viagem, ela quer fazer trilhas e aproveitar o feriado ao máximo, mas a família gostaria apenas de curtir a praia sem muitas cobranças. Só que nada, nunca, sai como eles esperam.
Enquanto os acompanha ao longo de quatro dias inesquecíveis (ou frustrantes), o autor aos poucos introduz personagens e cenários que orbitam esse núcleo e fazem parte de um universo complexo e interconectado. Suas histórias se desdobram nos contos seguintes até culminar com "Areia", uma narrativa impressionante sobre desejo, sobrevivência e ambição.
Além do retrato perspicaz do dia a dia, o que está em jogo na obra de Simeão é o poder de uma narrativa densa e multifacetada, que reproduz o ritmo turbulento da vida urbana. Em uma prosa radicalmente coloquial, mesclando tragédia e humor, o autor constrói um mosaico de trabalhadores em suas batalhas inglórias e pequenas vitórias épicas.