Uma tríade tessiturada entre a ficção e a vida cotidiana Gercina Dalva dedicou-se à criação de personagens que saem da imaginação e da vida cotidiana. Seus personagens são íntimos, pois navegam nos espaços onde navegamos a vida como ela é: cheia de encontros e desencontros. Em "Um a Amor Para Sempre" Gercina aborda o tema da esperança, a esperança como candelabro da vida, de vidas que se misturam e se separam dialeticamente em movimentos contínuos e ondulantes. "Um Amor Para Sempre" é um conto que desperta no leitor tanto o movimento da esperança como o movimento do segredo. O segredo é a chave para o desenvolvimento dos encontros e desencontros dos personagens e, ao mesmo tempo, é o remédio, o fármaco para que os fios da esperança sejam acolhidos. Um outro ponto importante em "Um Amor para Sempre" é o retorno de uma escritura que trata de Eros numa época em que as pessoas se tornam mercadorias e apenas ficam. Gercina Dalva ensina através de seu conto a moda do amor, quem sabe o amor do outro. No conto "Os olhos de Madalena" existe uma busca pela descrição de um fenômeno comum na vida de algumas moças simples, nos faz lembrar o personagem Maria Ramos, a heroína da novela simplesmente Maria, da TV Tupy de são Paulo, na década de setenta. Madalena é uma ressonância de tantas Marias e Madalenas que ficaram no passado tornando-se pesos manipuláveis para vilões que amam e desprezam os seres que conseguem sabotar. Madalena é o símbolo da moça pobre e crente no discurso dos vilões que usam, abusam e destroem quando já não desejam mais. Por fim, "Quando amanhecer" vem coroar essa escrita que contempla a doçura, a esperança, a resignação, a luta pela existência entre os personagens saídos de uma mente que restaura os dramas do mundo comum, do proletariado, do encontro entre classes, que fabricam seus amores, encontros, desencontros e conseguem resolver as cicatrizes e as feridas do viver. Gercina nos dá a oportunidade de refletir sobre os personagens saídos de sua memória que inconscientemente junta pedaços de vidas, de palavras, de experiências para habitar seus contos tão cheios de fatos da vida cotidiana. Luiz Gonzaga de Medeiros Bezerra da Cunha.