Quando surgiu o novo circo, sua grande novidade foi a ausência dos animais e, consequentemente, o fim da crueldade usada para adestrá-los. O fim de uma crueldade deve ser celebrado sempre, mas nesse caso, ninguém podia prever que a ausência dos bichos ananicasse os homens que agora tinham que se desdobrar em dois, três e até cinco personagens, muito mais coloridos e pintados, muito mais musicais, muito mais bailarinos, muito mais incríveis e muito mais habilidosos. Mas qual beleza humana pode fazer frente a uma só pata de tigre? Que homem, por mais músculos que tenha, pode competir com uma tromba de elefante? Além dos cães, quem pode saltitar com ternura, e qual acrobata pode ter mais equilíbrio que um rabo de macaco? No novo circo, embora o trabalho dos homens fosse quintuplicado, não se alcançavam as belezas da fauna divina, e os esforços, todos eles, terminavam por criar sempre um palhaço a mais. E os palhaços assomavam, aumentando cada vez mais o trabalho do pai e da mãe de Solano, costureiro e alfaiata daquela horda de palhaços que brotavam como fungos.