"famosa é a façanha de Georges Perec, que escreve um livro inteiro eliminando A, I, O e U"
Umberto Eco
Pouco tempo depois de ter lançado seu romance sem a vogal E, O sumiço, o autor francês Georges Perec escreveu Qe regressem, livro em que o E é a única vogal empregada. Bem como o escritor, o tradutor Zéfere passou a se dedicar ao trabalho monovocálico de Qe regressem depois de terminar o lipogramático O sumiço – tradução premiada com o Jabuti e com o Prêmio Literário Biblioteca Nacional em 2016.
A narrativa, originalmente publicada em 1972, mescla de policial e erótico, conta a história de uma orgia organizada com o intuito de se roubarem joias. Na análise de Claude Burgelin, estudioso do autor, Perec promove "na sua festa textual, uma festa sexual".
Qe regressem é uma obra experimental que explora as possibilidades da linguagem. Zéfere explica que o livro é uma obra de "língua estrangeira" dentro do português (assim como seu original com relação ao francês), pois a restrição vocálica exige a transgressão das normas cultas da escrita, a criação de uma nova ortografia, o uso de palavras e expressões inventadas, entre outros malabarismos que resultam em uma linguagem original e criativa. A restrição forma um jogo entre o autor, o enredo e o leitor, que é desafiado a descobrir os significados ocultos das palavras e frases.