A obra traz uma grande contribuição para a compreensão da experiência psicopatológica, ou seja, da vivência da pessoa na profundidade de seu sofrimento psíquico, sua inteligibilidade e possibilidades de intervenção, tendo como fundamento a teoria e metodologia existencialista dialética de Jean-Paul Sartre. O percurso das elaborações teórico-metodológicas parte da diferenciação, na obra do filósofo francês, entre as noções da "consciência" e seu vazio de ser, sustentada no voltar-se para o objeto, em sua intencionalidade e o "ego", enquanto produto da dialética subjetividade-objetividade, que se faz objeto no mundo, transcendente à consciência. Desemboca, com isso, na discussão da temporalidade, tão central no entendimento do sentido de ser para o humano, focado na questão da dinâmica temporal, na qual o futuro é o instituinte de nossa historicidade, definindo-nos enquanto liberdade e devir. Desce, então, ao método proposto pela Psicanálise Existencial, para esclarecer a forma de apreender o sujeito em sua concretude, tomado na dialética entre a dimensão universal, em sua inscrição no contexto epocal e sociocultural e a dimensão singular, em suas vivências familiares e psicossociais. A autora chega, então, à discussão da psicopatologia na perspectiva existencialista, em um diálogo com a Fenomenologia, que propõe que esta ciência e a clínica derivada dela sejam realizadas "por dentro" das vivências psicofísicas, tomadas a partir da experiência do próprio usuário, para chegar ao sentido existencial, desvelado a partir de sua biografia. Contrapõe-se, assim, à psicopatologia descritiva ou sintomatológica-criteriológica, por ser realizada "por fora", pelo ponto de vista de um "terceiro", tal como vemos ocorrer quando prepondera o modelo biomédico, baseado na nosologia dos grandes manuais, como DSM-V ou CID-11. Corda Bamba, a usuária que tem a história de seu sofrimento descortinada pela argúcia clínica da autora, Marivania Cristina Bocca, revela por meio do seu caso clínico o diferencial de uma compreensão psicopatológica crítica e a potência da clínica existencialista, que recoloca o sujeito nas rédeas de seu projeto-de-ser. Por essas e por outras, o livro Psicanálise Existencial e o método progressivo-regressivo: experiência psicopatológica em Jean-Paul Sartre é leitura imprescindível para os interessados na filosofia sartriana e em seus desdobramentos no campo "psi".