Após Morra, amor e A débil mental, a argentina Ariana Harwicz conclui a "trilogia da paixão" com um romance perturbador sobre mãe e filho adolescente que levam uma vida marginal, em uma narrativa na qual a angústia e a loucura desempenham um papel central.
Em um ambiente rural, mãe e filho levam a vida no limite – do amor, da obsessão e da indigência. Caçam, vasculham o lixo, vagam pelas ruas, são perseguidos por policiais e assistentes sociais. A mulher, embora dependente do amante casado que a rejeita, é também a mãe obstinada que teme perder o filho, o qual vê rapidamente se transformar em homem. Nessa relação ambígua, a distorção na estrutura familiar tradicional questiona os papéis conferidos à mulher pela sociedade, sobretudo aquele ligado à maternidade: "Mas agora me beija e nos desfazemos, não mãe e filho, dois clandestinos que se cruzam numa parada, dois aturdidos no alto de um refúgio, dois punks que atravessam a Europa comendo do lixo público, na França, na Alemanha, na Itália, os lixos cheios, sanduíches mordidos".
Precoce foi publicado originalmente em 2016 e fecha a chamada "trilogia da paixão", na qual Ariana Harwicz contesta a imagem beatífica da maternidade e escancara, como ela mesma afirma, o sinistro e o belo do vínculo entre mãe e filho, marcado por pulsões carnais e pelo tabu do incesto. No mundo ficcional cruel e poético de Harwicz, o amor é desequilibrado, movido por desejo e violência.
Dessa trilogia "involuntária" também fazem parte os romances Morra, amor [Matate, amor], de 2012, e A débil mental [La débil mental], de 2014, publicados pela Editora Instante em 2019 e 2020, respectivamente. Em 2018, a edição em inglês de seu livro de estreia, Morra, amor, foi indicada ao Man Booker International Prize; em 2019, A débil mental foi adaptado para o teatro na Argentina. Harwicz também é autora de Degenerado, de 2019.