Por muito tempo, a historiografia acomodou-se à posição de interpretar o Brasil independente sem os indígenas, acionando problemas de investigação e grades de leitura das fontes primárias que tornavam difícil visualizá-los, seja como "protagonistas" históricos, seja mesmo como "variáveis" de importância relativa para a compreensão de eventos e processos. [...] Povos indígenas, independência e muitas histórias – Repensando o Brasil no século XIX é uma coletânea de reflexões que busca agregar os indígenas nesse processo de renovação historiográfica, trazendo e discutindo novos problemas, temas e perspectivas que, nas últimas décadas, têm sido objeto do que se convencionou chamar de nova história indígena. Os estudos aqui reunidos expressam a multiplicidade de caminhos percorridos pelos variados povos na formação do Brasil independente, lançando luz nos desafios, interesses, expectativas e interpretações expressas pelos próprios indígenas. Nessa empreitada, os autores quebram vários estereótipos atribuídos aos indígenas, que, durante muito tempo, foram difundidos ou simplesmente não questionados pela historiografia mainstream, como se colocá-los à prova da dúvida metódica não fosse exigência do trabalho historiográfico. A presumida indiferença ou incapacidade das populações indígenas de lidarem com processos e acontecimentos históricos em que estavam direta ou indiretamente envolvidas e a suposta insignificância deles na composição das estruturas e das conjunturas históricas são alguns dos horizontes rompidos e superados pelos autores responsáveis pelos estudos aqui publicados.