Não me considere uma menina romântica e nem ache que sou uma bobinha que acredita em príncipes encantados. Sou apenas alguém que levou muito a sério um conselho que meu tio "Voltas" me deu – esse era um apelido antigo que ele tinha, já que sempre dava muitas "voltas" antes de dizer algo. Seu nome mesmo era Jeremias.
Mas antes de falar sobre esse conselho, acredito que seja melhor esclarecer alguns pontos sobre mim. Fui criada pela minha mãe e não cheguei a conhecer meu pai. Ele morreu em um acidente de trânsito quando minha mãe estava no sexto mês de gestação. Sou filha única e meu tio sempre fez questão de tomar de conta do quesito "cuidar da sobrinha órfã". Ele é casado e tem dois filhos quase da minha idade – tenho 22. Tio Jeremias (Sr. Voltas) mora a duas quadras da minha casa e passa aqui todas as terças e domingos antes de ir para a igreja. Ele é pastor e esse também é um ponto importante de se falar.
Sempre me considerei cristã, mas nunca havia de fato feito parte de nenhuma igreja. Visitava, gostava e acreditava nas palavras que eram ensinadas, mas eu não era uma ovelha daquele rebanho.
Meus primos, que já foram citados aqui, se chamam Micael e Maicon. Gêmeos, bonitos, mas só isso. Nunca me passou pela cabeça ter nada com eles por motivos óbvios: somos primos de primeiro de grau e fomos criados juntos, como irmãos.
Sobre o ano que aconteceram os fatos: por volta de três anos atrás. Eu estava com dezenove anos e estudava feito uma louca para ser aceita em alguma universidade. Queria cursar medicina, mas não estava sendo uma tarefa fácil. Já havia feito diversas tentativas e nunca passava nas provas. Mas naquele ano, por um grande e incrível milagre, eu passei. E pensando bem, preciso colocar essas linhas em letra maiúscula para dar mais destaque: EU PASSEI NO VESTIBULAR PARA M-E-D-I-C-I-N-A!
Foi incrível. Pedi até ao meu tio para agradecer essa bênção durante um culto na igreja dele. Essa parte não foi incrível. Tremi. Gaguejei. Deixei o microfone cair. E ainda vi alguns adolescentes da primeira fila rindo de mim.
Mas eu estava na faculdade e ponto final. Esse era um belo motivo para me deixar alegre e bem-humorada.
Maria Valentina Porto. Dezenove anos. Universitária. Feliz. E... sem nunca ter beijado.