A pandemia foi convite da vida para nos humanizarmos, e acabou servindo de espelho, refletindo o que nos vai por dentro em termos de convivência, acolhimento, respeito à diferença e busca de um sadio estar no mundo. Dolorosa revelação, com marcada polarização, tanto ódio explícito, grave suborno à verdade por conta de notícias falsas e orientações tendenciosas disseminadas em massa, através das redes sociais, para corromper por dentro o que temos de mais sagrado: o mútuo entendimento e a feitura da paz. Dentro desse sonho de mundo irmão nasceram estes poemas como convite ao desarmamento dos espíritos, porque, sem este, as mãos, mesmo sem gatilhos ou instrumentos pontiagudos, continuam desferindo golpes, os corações continuam feridos e ferindo e os olhares continuam mirando os semelhantes com intenção de aniquilamento. Estamos doentes como sociedade, precisamos de tratamento, precisamos de cura, precisamos de empenho, precisamos de persistência. Ou nos damos as mãos e damos meia volta ou nos afundamos. Creio na capacidade dos humanos. Mas sermos fraternos não é dado gratuito, é envolvimento, é compromisso, é suor, é construção, é uns cativando os outros para o grande mutirão.
A forma poética que escolhi para estes textos, é filhote do soneto: também em decassílabos, mas com dois versos a menos, e com três rimas distribuídas entre os dois quintetos e o dístico final. Batizei de sonilho. Portanto, cem sonilhos para uma viagem, não de turismo, mas de comprometimento com a paz.