Há alguns anos o autor, Rodrigo Petronio concebeu e começou a desenvolver um novo conceito a partir de um neologismo: bioceno. Este termo foi estabilizado parcialmente em um artigo que escrevi e foi publicado no Número 22 da revista Teccogs (Petronio, 2021a). Nele analiso em linhas gerais as pesquisas de Vikram Shyam, um dos poucos pesquisadores do mundo a desenvolver o mesmo neologismo. Naquele artigo, concentrei-me apenas em expor em linhas gerais a pesquisa de Shyam e nomear alguns de seus conceitos, tais como paleomimesis, fisiomimesis, biomimesis e antropomimesis. Descrevi também a PeTaL (Tabela Periódica da Vida), projeto desenvolvido por Shyam na NASA a partir dos pressupostos da teoria biocênica. Por sua vez, o Antropoceno é uma mudança da época da Terra cuja oficialização nos meios acadêmicos está em vias de ocorrer. Conta com um profundo interesse por parte de diversos cientistas e pesquisadores, além de ser um dos fenômenos mais transdisciplinares do mundo contemporâneo. Mesmo assim, tendo em vista os impactos em escala global que os efeitos antropocênicos podem deflagrar, percebe-se que ainda não tem a atenção que deveria merecer. Sem minimizar a especificidade e a centralidade da ação dos humanos nas consequências negativas e mesmo catastróficas decorrentes do Antropoceno, acredito entretanto que o conceito possui alguns problemas epistêmicos que precisam ser retificados. Um dos problemas principais é trazer em seu cerne a categoria antropos, o que gera um paradoxo. O mesmo antropocentrismo que produziu uma alteração devastadora do sistema Terra continua a ser enfatizado e reproposto pela nova época do humano, ainda que de modo negativo.Como uma alternativa a este paradoxo, criei e tenho desenvolvido o conceito de Mesoceno: uma época dos meios-relações. Inspirado em minha teoria dos mesons (meios-mundos), o Mesoceno pretende dissolver e relativizar a centralidade do humano em meio os demais processos da geosfera, da biosfera, da antroposfera, da tecnosfera e da cosmosfera. Esta nova (ceno) época da vida (bíos) que emerge agora com o fim do Holoceno nasce de uma reconfiguração global de todas as definições de natureza, redefinida a partir da iminente exponencialização da inteligência artificial. Dessa forma, esta nova época pode vir a ser converter em uma nova era para o sapiens: a era relacional. Essa cosmologia relacional e conexionista do Mesoceno pode vir a superar as aporias e impasses de do biocentrismo e do antropocentrismo, ainda latentes nos conceitos de Bioceno e Antropoceno. Este artigo pretende trazer algumas visões acerca desses problemas envolvendo o Antropoceno e levantar algumas linhas da compreensão