Dentre as doenças que assolaram o país no século XIX, a Febre Amarela se destacou pela forma como se expandiu e pelos prejuízos causados, sobretudo em decorrência dos péssimos hábitos higiênicos, ausência de medidas sanitárias mínimas e práticas de saúde ancoradas no pouco saber disponível à época.
A partir da abordagem da História Nova, proposta pela terceira geração da École des Annales – representada por Jacques Le Goff e Michelle Perrot –, foi possível debater sobre a temática, reescrevendo o que ficou oculto nos termos da historiografia oficial. Penetrar na intimidade dos documentos garimpados, nos manuscritos dos médicos e cirurgiões de partido de Alagoas, jornais e nas Fallas e Relatórios dos Presidentes da Província, num minucioso trabalho de pesquisa, permitiu que as autoras traçassem os caminhos da epidemia no estado.
Hospitais, lazaretos e enfermarias foram criados, e podem ser retratados pela célebre frase do jornal 'O Orbe' – Por fora tanta farofa, por dentro mulambo só – a qual reforça as condições precárias desses espaços. Todavia a febre amarela deixou como consequência o crescimento da rede de postos de saúde, exigiu a ampliação da contratação de profissionais e abriu espaço para a expansão da Enfermagem, tanto do ponto de vista profissional como dos ocupacionais, todos eles eivados dos mesmos preconceitos que ainda hoje, mesmo que em menor proporção, estão presentes nessa categoria tão vital para o cuidado em saúde.