O abuso do poder religioso nas eleições não está vinculado necessariamente à fé. Há quem afirme tratar-se de um neocoronelismo em alusão à tese enfrentada pelo saudoso Ministro Victor Nunes Leal, quando ele explicitava haver uma forma hegemônica de instituição privada a instalar-se na política com manifesto domínio econômico. O abuso do poder religioso só passa a ser abusivo quando estabelece uma forma de composição fisiológica de certas instituições religiosas e não da religião no processo democrático das eleições, impondo certas dissimulações do discurso religioso entrosado à ideia de desenvolvimento econômico, poder político, cuja predominância ideológica de grupos majoritários e autointeresses econômicos são consequências desse projeto político.
O livro Política e Fé: o abuso do poder religioso eleitoral no Brasil observa os limites materiais constitucionais que devem ser levados em consideração para a compreensão do fenômeno com atenção pela justiça eleitoral, não pela forma religiosa em si, cuja liberdade goza no Estado Democrático de Direito, porém, pela forma discrepante que chancela uma espécie de abuso ideológico e econômico na lisura das eleições.