Passado mais de uma década após a publicação do Socotó (2007), todos os leitores e o mundo inteiro (porque agora versado até em outros idiomas: "Vattene vieni vita") puderam tomar conhecimento de mais uma obra poética de Ozildo Batista de Barros. Enganou-se quem imaginava que a cacimba poética do Baixio das Abóboras havia secado ou mesmo minguado. Ao longo desses anos, acompanhei passo-a-passo o processo de escritura do Poetana, na maioria das vezes como primeira leitora ainda do "poema-trans" (1) e/ou através da "Janela da Poesia", onde são fixados os novos poemas, bem como por meio da declamação artística do poeta e ator Vilebaldo Rocha, da poetisa Ana Maria Coutinho ou na voz segura e inconfundível do próprio autor, em nossos Saraus Poéticos no Falecido Amor. Ao final da leitura desta coletânea, com prefácio poético de Vilebaldo Nogueira Rocha ("Ozildo Batista" e "Falecido Amor"), o que mais poderia ser dito ao atento leitor que lhe acrescentasse algo novo? Eu responderia: quase nada! O que se pode certamente afirmar é que, o mesmo poeta, adolescente do Quem Manda na sua Vida? (1977), e o adulto e angustiado do ETC & TAL (1981) e do Das Pedras aos Picos (1984), continua vertendo poesia por todos os poros. No entanto, desse feita, com a sapiência e a tranquilidade de quem vive ao lado do "Lago do Amor" e desfruta "a brisa de Sussuapara". O estilo não mudou. Discípulo do modernista Oswald de Andrade e adepto do poema-pílula, Ozildo conserva o seu estilo inconfundivelmente seco e demolidor, receitando-nos, mesmo que em pequeninas doses, grandes verdades de efeitos prolongados. O estilo poema-bonsai, como nos aponta Regis de Moura Marinho no artigo "Socotó, a técnica do bonsai aplicada à poesia" (2), predominante em Socotó, mas já muito presente em ETC&TAL (1981), aprimorado em Versos e Reversos (1999), tem continuidade no Poetana, com os poemas "Reação", "Silêncio do exílio", "Evolução das espécies", "Peixe elétrico", "Humanae ignis", "Do ser" e "Almas". No entanto, percebe-se uma diversificação com poemas longos e prosaicos, como "Serra do Brejinho" e "Movimento das brisas", à semelhança das conversas poéticas do defensor da ética e da liberdade de expressão ("Silêncio sacrifício: / O silêncio obsequioso da Santa Sé / dado ao Frei Leonardo Boff").