Poemas são como estátuas. A partir do momento em que se consolida, com o ponto final do autor, permanecem para sempre, alheios ao tempo. Constato isso agora, relendo velhos poemas escritos na juventude e percebendo que continuam atuais, não mudaram, tanto na forma como na mensagem. Suspeito que a humanidade evolui muito lentamente. Não falo aqui de conquistas tecnológicas ou aumento de conhecimento. Falo do interior, do ser, do pensar, do agir, do analisar, do encarar os fatos e enfrentar seus demônios e desafios.Pegamo-nos muitas vezes lendo um poema e nos identificando com o que diz o poeta, sem atentar para o fato de que aquilo foi escrito há centenas de anos. Como pudemos nos transformar tanto exteriormente e continuarmos os mesmos, com as mesmas mazelas, com os mesmos sentimentos, com as mesmas dores de sempre? Como não aprendemos direito a conjugar o verbo amar em todos os seus tempos e pessoas, singulares e plurais? Fica difícil constatar que até hoje aprendemos muito mais a dividir, a separar, a diminuir do que a somar, multiplicar, juntar. Jamais igualaremos assim as frações de nossa forma de vida. Sou eu, aos setenta, lendo o que escrevi aos vinte.Você também não faz isso?