Trata-se de uma coletânea de textos que abarcam um largo período de tempo, vivido entre a literatura e a psicanálise. Poemas bem de detrás e antes toma as várias paixões e abstrações humanas em sua densidade e propriedade metafórica, que vão muito além do que aquilo que expressam num primeiro instante. Temas como a finitude, o amor, o vazio, a poesia, o escrever, a melancolia, os sonhos, a felicidade e a nostalgia ganham outras formas de expressão. As temáticas se deslocam, tornam-se escorregadias entre a forma e o conteúdo, de modo que capturam um novo modo de falar dessas paixões quase metafísicas. Os poemas apresentados promovem uma abordagem que desmascara apresentações ideais, simplistas, diretas ou benevolentes. Ao longo do percurso textual apresentado, vai consolidando-se a ideia de uma impossibilidade quase inerente à condição humana, que é de tentar dizer sobre o inteiro das coisas. Podemos tecer aproximações, relançar ideias, sentidos, deslocar, aparar, contornar arestas, fronteiras, mas jamais chegamos ao ontológico das coisas e dos afetos. Estes estão sempre para além ou para trás, seja no tempo, seja em sua propriedade de ser no espaço. Por fim, os poemas tentam caracterizar essa disponibilidade sempre renovada do ser humano em tentar dizer cabalmente as coisas, mesmo as custas da compreensão ou do fechamento do sentido. Daí também, essa propensão a tentar dizer mesmo assim, de modo incompleto ou performático, dizer de novo e dizer de mil formas diferentes, sem jamais desistir ou recuar desse ato. Sim, porque falar, escrever, dizer são atos humanos e o dizer talvez seja um ato humano por excelência. A palavra tola, besta, às vezes até errada, mal colocada ou infeliz enseja uma paixão ou ainda um desejo humano legítimo e, portanto, passível de expressão na busca incessante do humano de dar sentido às coisas.