O terceiro livro de André Albuquerque, Pindorama, sintetiza a saga de povos sobreviventes. Creio que esse seja o termo mais adequado. São sobreviventes a séculos de opressão, manifesta na forma da violência física ou na forma da imposição cultural. Chamados de índios, silvícolas ou, mais recentemente, de povos originários, são apenas seres humanos identificados com outra forma de vida, em muito distinta e até oposta àquela imposta pelo capitalismo e sua classe dominante, a burguesia. ""Pindorama"" tem, além de tudo, o mérito de vincular o tempo inicial da tragédia - a fase colonial - com o mais recente desdobramento político brasileiro - o bolsonarismo - cujo resultado foi a retomada do extermínio físico e cultural dos sobreviventes.
Essa nova contribuição de André Albuquerque ao estudo do Brasil tem seu ponto mais elevado, ao meu ver, na apresentação das ""perspectivas de um indigenista brasileiro"". Felizmente há muita gente que se identifica e luta com semelhante perspectiva. É isso que nos concede otimismo com a vida, com o planeta e com a humanidade. André tem um imenso mérito por isso. Escrever ""Pindorama"" foi um ato de resistência. Além de recomendar leitura, proponho engajamento baseado nas perspectivas desse indigenista e escritor talentoso.