Dentre as virtudes deste livro de contos, o segundo de Tiago Velasco, destaca-se em "Petaluma" o olhar sensível às questões do homem contemporâneo. Na narrativa que abre o livro, "Em pedaços", acompanhamos o andar fraturado de um homem que acorda numa cama de hospital e que, com uma doença que desconhece, não tem o que fazer senão caminhar a esmo. A fragmentação de tempo e espaço e do próprio território psíquico do personagem trazem uma atmosfera becketiana que fisga o leitor já nas primeiras páginas.
Mais adiante, em "Reflexo" temos o homem niilista, sartreano, que abdica (por transgressão ou egoísmo?, se perguntará o leitor) de seu lugar social para viver conforme suas pulsões e demandas mais essenciais.
Por fim, temos "Petaluma", o conto (também novela, também poema, também autoficção) que fecha e dá nome ao livro. Um restaurante em que cidadãos de todos os lugares do mundo vão trabalhar como busboys é o cenário em que se desdobrarão as seculares e ásperas relações de classe, atualizadas aqui pela condição contemporânea ultraglobalizada.
Metáfora da condição desterritorializada do homem hoje, e escrito com linguagem econômica, direta e cortante, "Petaluma" irá te desterritorializar; na medida em que ser tocado e em entrar em contado verdadeiro com o outro (experiência que Tiago nos proporciona) já é sair de si.