Em muito boa hora vem à tona este livro. Em primeiro lugar, porque, ainda que tardiamente, a sociedade brasileira parece agora refletir sobre o seu próprio passado ligado à África, reconhecendo a carga histórica da colonização e da escravidão e suas dívidas com os próprios irmãos africanos. O segundo motivo tem justamente a ver com o tema do livro, que é a agricultura em Angola. Central na Angola de ontem e de hoje, a agricultura é atividade importante e ancestral, assim como o é a agricultura brasileira, em que pese termos aqui conhecido nos últimos cinquenta anos processo avassalador de modernização a que nossos irmãos angolanos ainda estão por experimentar – o que esperar, por exemplo, da imensidão de terras angolanas hoje convertidas em projetos coordenados por grupos estrangeiros, como bem apontam os autores no livro? Poderão os interesses e aproximações recentes de Angola com a China destinar-lhe um futuro outro, diferente do que aqui observamos a partir da ação de empresas monopolistas do Atlântico Norte?
Conhecer especificidades e aspectos históricos da agricultura em Angola talvez nos permita pensar, não só sobre eles, mas também sobre nós brasileiros. É desta aproximação e troca de experiências que podemos alcançar futuro melhor para os campos angolano e brasileiro.
Mirlei Fachini Vicente Pereira
Professor Associado no Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia (IG-UFU).