O Lapidário é um documento que Afonso X, rei de Leão e Castela entre 1252 e 1284, manda traduzir do árabe para o castelhano, em 1250, por Hyuda Fy de Mosse al-Cohen Mosca, médico judeu a serviço da corte, com o auxílio do clérigo Garcí Perez.
Na referida obra, apresentam-se 360 pedras cujas propriedades estão relacionadas aos 360 graus do zodíaco, 30 pedras para cada um dos 12 signos. Cada uma recebe suas propriedades físicas e suas virtudes operativas das estrelas que formam as constelações.
A maior parte das descrições das pedras traz a indicação de uso para o tratamento de doenças, mas também seu emprego nas mais diversas circunstâncias da vida cotidiana. As receitas combinam, frequentemente, o uso de partes de animais, e um bom número delas emprega também as plantas. Pedras, plantas, animais, seres sutis e astros intervêm continuamente na vida humana.
Dentre todas as possibilidades de estudo que o documento proporciona, optamos por investigar o modo como os seres são descritos, apreciados e classificados.
O Lapidário encontra-se na fronteira entre dois mundos: um ancorado numa forma tradicional de ver os seres, das pedras aos anjos do céu, que crê na possibilidade de pedras serem animadas por sentimentos, na geração de seres segundo a quantidade de calor ou frio, umidade ou secura do ambiente em que ocorrem, na porosidade da linha que divide os gêneros e as espécies; outro que se fundamenta na geração dos seres segundo a forma e em virtude das funções e fins a que devem atender. Nesse caso, pedras, plantas e animais, em sua diversidade inimaginável, compõem o mapa mental, que os divide e os organiza segundo semelhanças e diferenças constitutivas.
Nosso objetivo é apreender as categorias presentes no texto que explicam suas diferentes formulações, e que concepções elas articulam para explicar o mundo em que vive o rei Sábio.