O tempo parecia ter perdido seu significado. O silêncio ao redor só era quebrado pelos sussurros de uma brisa que atravessava as frestas da janela, dançando em meio à poeira que pairava no ar, quase como se estivesse zombando da quietude. A luz fraca do sol lutava para entrar no pequeno espaço, criando sombras que se moviam lentamente pelo chão de madeira desgastado. A velha poltrona de veludo vermelho, rasgada e manchada pelo peso dos anos, abrigava um corpo tão cansado quanto o próprio tecido. Seus olhos estavam baixos, quase fugindo do mundo que insistia em girar lá fora. Não havia mais ânimo para enfrentar as cicatrizes que carregava ou para lidar com a incerteza de cada novo dia. Em sua mente, muros se erguiam, altos e intransponíveis, afastando-a de tudo o que um dia sonhara. Era mais seguro assim. A cada obstáculo que encontrava, erguia outro muro, até que se perdera completamente entre eles. Seus pés já não sabiam para onde a levar. Sonhos se desintegravam antes mesmo de ganharem forma, e o futuro se tornara uma ideia distante, quase inimaginável. Sentia-se pequena, invisível, alguém cuja presença mal era notada. O amargor havia tomado conta de sua essência, e tudo o que restava era o eco de uma existência que, há muito, perdera a cor. Não era dor que sentia; era algo mais profundo, como um vazio que devorava qualquer vestígio de esperança. Ela se via como uma vítima do destino, como se a vida fosse uma punição, uma sentença imposta por algo que nunca entendera. Mas, mesmo assim, havia algo dentro de si que lutava para escapar – um fio de luz que, embora fraco, teimava em sobreviver. No entanto, em algum ponto de sua alma, uma semente de mudança começava a germinar. Ela não sabia se aquilo era uma nova dor ou uma esperança há muito esquecida. O caminho à frente parecia nebuloso, incerto, mas algo dentro dela se movia, um impulso desconhecido que a fazia questionar o próprio destino.