Paris Caraíva, o novo romance de Ricardo Rigui, traz uma dimensão inusitada (e nem por isso inverossímil) da pandemia da COVID: aqui, o espanto inicial, que pega o narrador no meio de uma viagem de férias à Europa, convive com dificuldades práticas, incidentes pitorescos e até uma aventura contra a extrema-direita portuguesa. Depois, porém, quando o mundo já está paralisado – por necessidade, de um lado, e medo, do outro – o narrador mergulha em uma viagem íntima, que inclui o desespero do contágio à história familiar, com tudo sempre sendo observado pela História recente, que no caso aqui é mais do que contexto: forma a trama.
O romance é ágil, trágico muitas vezes, engraçado outras tantas, e sempre inteligente. Não poderemos nos esquecer de tudo o que passamos, do que fizemos conosco, com o nosso país e com as nossas centenas de milhares de mortos. A literatura ajudará nesse esforço e com certeza Paris Caraíva será uma peça importante no mosaico que começa a ser construído.
Ricardo Lísias