O processo de grandes transformações que agitou toda a bacia do rio da Prata em meados do século 19 e que teve seu ponto de inflexão na Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870) deve ser analisado, para a sua real compreensão, no contexto de um conjunto de determinantes históricas, entre as quais está a consolidação da nação paraguaia. Com rigor, produto de profundo conhecimento do tema, mas através de um relato ameno e agradável, o historiador Mário Maestri nos apresenta no presente estudo - Paraguai: a república camponesa: 1810-1860 - latifundiários, caudilhos, escravos, comerciantes, a exploração indígena, membros da igreja, a ditadura francista, e, fundamentalmente, o camponês paraguaio. Esta interpretação histórica sem maquiagem, que assume posicionamento ideológico segundo a luz das novas investigações e publicações, necessariamente desemboca na re-interpretação deste dinâmico e emocionante período histórico paraguaio. Paraguai: a república camponesa: 1810-1860 é um livro compreensível, apaixonante, renovador, que com certeza se converterá em uma referência bibliográfica. Ele nos introduz entre duas datas históricas chaves: 1810 (o processo da independência) e 1864 (o início da guerra), adentrando-se na trama do poder, da economia, da burguesia, das relações internacionais, do isolamento e, sobretudo, da formação social do Paraguai e de sua peculiaridade. A inegável instrumentalização da história, sobretudo pelas forças do liberalismo triunfante até fins do século 19, seguida pelo nacionalismo de inícios do século 20, faz com que esse livro assuma um papel chave, graças a vasta documentação citada, para apresentar algumas verdades, como mentiras, e vice-versa. Nesse processo, resgatando o princípio de que a história é mestra da vida, Paraguai: a república camponesa: 1810-1860 torna-se leitura inarredável para o entendimento do passado e do presente do Paraguai e da região. Jorge Coronel Prosman Asunción, Paraguai, 22 de outubro de 2014 .