Curitiba é a cidade das nações. Aqui, jazem, vivem e dançam ritmos estranhos e paradoxais. O estrangeiro que, aqui, chega poderá dançá-los de imediato, se for do mundo. Caso contrário, se surpreenderá, pois o seu ouvido não reconhece este tango diferente, ou esta rima para lá de Roma ou Bagdá. Uma caixa de surpresas fechada que, para ter a sua chave, há de subir no balcão da noite nevoenta, onde todos os mistérios se escondem. Principalmente, este idílio puritano que vem da antiga Saxônia ou Baviera, dos altos Apeninos, ou dos desertos do Bekka, sendo, enfim, todos eles, uma amálgama de acentos completamente fora dos organes da cultura que rege este país da espontaneidade. Aqui, há de dançar com esta língua particular, difícil, mas evidente, desde cedo e, quem sabe, cantar este universo particular de escutas tão finas. E como é fácil falar "leite quente".
A história deste livro é um pouco disto tudo. De como um desembargador, um político e um médico se envolveram com a trava da memória sexual desta cidade que se desdobra pelas esquinas, revelada em convencionada hipocrisia, ao ponto de tropeçarem nas próprias pernas e abrirem um veio de prejuízos e méritos, construírem e destruírem carreiras.
A apologia do amor supremo, cruzando-os por meio de figuras da noite, que, abençoadas pela virtude mais desconcertante e inesperada, desbanca as hipocrisias encalacradas nos hábitos ao longo da história. E, no final, eletriza o saldo miraculoso do amor mais fraterno sem distinções ou origens, classes ou apanágios enganadores.