Em 1918, nós vivíamos em um mundo atrasado, que até mesmo desconhecia o que era o vírus - agente causador da pandemia da gripe espanhola -, que dizimou milhões de pessoas mundo afora, chegando a atingir duas vezes o que morrera de soldados e civis durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). O Brasil, pelo menos na estatística oficial, foi poupado, tendo sido contabilizados pouco mais de 35 mil mortes, isto porque a segunda onda da gripe que adentrou o território nacional, apesar de maior grau de contagiedade, era menos mortal. Entretanto, mais da metade da população foi infectada e o medo da morte atingiu a todos, que se recolheram em casa, deixando as ruas desertas. A cidade mais afetada foi a capital federal do Rio de Janeiro, que tinha menos de um milhão de habitantes. Os brasileiros, especialmente os mais pobres, sofreram muito com os altos preços dos alimentos, dos gêneros de primeira necessidade e dos medicamentos, quando os produtores e comerciantes decidiram aproveitar a crise para faturar. Era mais lucrativo exportar alimentos para o front de guerra do que abastecer o mercado interno e medicamento, por menos eficaz que fosse, era desejado por todo mundo. E, na falta deles, se vendiam "garrafadas", que nada resolviam, mas que rendiam muito para seus criadores. De repente surgiam poções para quase todo mal; até mesmo contra a impotência sexual. O que não faltaram foram boatos, censura à imprensa, negacionismo, falas contra o uso de máscaras e a disseminação de teorias conspiratórias sobre a origem da gripe espanhola. Mas, uma coisa é quase unânime: das beberagens inventadas para combater a doença é que teve origem, em São Paulo, a nossa famosa caipirinha. Viva La vida!