Tornou-se cômodo, em análises cotidianas de processos políticos, classificar este ou aquele grupo envolvido em manifestações e movimentos políticos de "massa de manobra" ao percebermos que suas lideranças não são das mais transparentes em seus objetivos. Entretanto, apesar de um tom crítico, esse tipo de conclusão nem sempre é suficiente para entender um episódio histórico. A Revolução Constitucionalista de 1932 normalmente é explicada como uma reação das elites paulistas à Revolução de 1930, por vários motivos. Ainda que essa intepretação permaneça mais ou menos eficaz, não é capaz de explicar o massivo engajamento da população de São Paulo naquele evento. Entre 1930 e 1933, o estado de São Paulo foi governado por 13 homens diferentes; seus habitantes assistiam a uma profunda convulsão política naqueles anos. Sacudidos desde 1924 por uma violenta revolta armada, viram também com intensidade a chegada de Vargas à capital; presenciaram do surgimento do modernismo às ondas de greves. Para engajar esta população inflamada em um movimento armado, convencê-la de arriscar suas vidas, foi necessário um discurso tão inflamado quanto; e o objetivo deste livro é apresenta-lo ao leitor.