A poesia é o exercício de mexer com o coração. E este primeiro livro do Luiz Fernando cumpre a sina do poeta. Trata-se de um livro composto e decantado ao longo dos anos inconformados da juventude tardia e da maturidade juvenil. Olhando para os versos, um dia, o poeta achou que devia tossir as palavras que ocupavam sua boca como um enxame de abelhas de mel e ferrão. Não se lê poesia, falam e praticam muitos, mas quem cala essa louca? Então, que venha à tona, mesmo que seja num momento em que duvido deles e duvido de mim. No livro, o poeta passeia pelas ruas da cidade e caminha calçado nas palavras e escorado nas casas velhas, pois, elas são sobreviventes, como todos nós, eu, casa velha, sou alma penada, nem sei por que estou aqui, se também fui demolido e não caí. O poeta e professor também verseja sobre as duas irmãs de profissão: uma desprestigiada, a outra maltratada e malfalada. As ilustrações do livro são de sua autoria, já que palavras também são imagens. Em alguns poemas há um quê de desejo de fugas imaginárias, como são, aliás, todas as fugas. Mas o poeta avisa que partirá de trem, sim o trem irá em silêncio sumindo na escuridão. Ninguém notará mas eu estarei nele. E aqui entrego em suas mãos esse volume intermediário: não sou livro nem sou gente.