O presente trabalho pretende verificar a relação entre a Palavra e o Espírito na Constituição Dogmática Dei Verbum, do Concílio Vaticano II. Nossa investigação procura mostrar que, embora sejam pouco numerosas as referências ao Espírito naquele documento, em sua leitura é possível caracterizar ou identificar as formas de relação entre a Palavra e o Espírito. E ainda mais se nessa leitura for levado em conta, como é nosso propósito, que a Dei Verbum é essencialmente um documento voltado para expor uma doutrina sobre a revelação da Palavra de Deus. Verificamos também que essa doutrina tem entre seus pressupostos que a relação entre a Palavra e o Espírito provocará a escuta do ser humano à Palavra, levando-o a dar, por sua vez, uma resposta, que é a de também buscar escutá-la. Da genuína escuta da Palavra de Deus que se revela no Espírito, à qual o homem se dispõe, podem depender todas as outras formas de relação em que o ser humano se envolve: a relação consigo mesmo, a relação com o(s) outro(s), a relação com o mundo, com a sociedade e até a relação com as coisas. Da autêntica capacidade do homem de escutar a Palavra de Deus pode depender um novo modo de ser e de viver do homem neste mundo. Algo que o próprio Concílio já aventava, ou melhor, estava pressuposto em suas deliberações. O espírito conciliar propunha essencialmente a atualização da relação com a sociedade, com o mundo, com a ciência. E certamente é a escuta que daria os contornos dessa relação.