Paisagens baldias, a natureza manifesta nas brechas da cidade traz ao leitor investigações sobre as possibilidades de reconhecimento sensível dos elementos naturais que permeiam o espaço urbano, a contrapelo dos esforços de roçagem, supressão ou amansamento, oferecendo oportunidades à fruição paisagística no cotidiano das grandes cidades. Tais investigações giram em torno de dois termos distintos e aparentemente antagônicos: a natureza, de um lado, assumida como ente estranho à condição humana; e, de outro, a cidade, tomada em sua dimensão residual a partir de espaços que, indefinidos ou ociosos, escapam aos intentos de organização racional do meio urbano. Desde fissuras ínfimas povoadas por gramíneas em meio ao asfalto até grandes terrenos baldios, os espaços residuais colocam-se como ponto de intersecção entre esses termos, definindo um território desconexo, entranhado no corpo da cidade, que se oferece às brotações vigorosas da natureza.
Para os interessados no pensamento de autores como Henri Lefebvre, Michel de Certeau e Gilles Clément, bem como nos aspectos prático-projetuais que participam da relação entre natureza e cidade, uma instigante leitura sobre paisagens possíveis, embora improváveis, a serem desveladas poeticamente em situações as mais prosaicas do cotidiano urbano.