Pensatas – Considerações "É necessário se espantar, se indignar e se contagiar, pois só assim é possível mudar a realidade" Nise da Silveira A teoria política do filósofo Aristóteles é construída em torno da ideia de que o homem é um animal político por natureza; que a cidade é natural, e que o fim do homem é a felicidade. E que essa felicidade só se atinge plenamente na polis (cidade). Considerando cidade também enquanto sociedade (ou vida social), o homem, em tese, precisaria saber como com/viver com o outro, evoluir nessa irmandade (ou comunidade), ter assim uma filosofia de vida para ser feliz. O ser humano, por outro lado, segundo preconiza Kant, é um ser político, pensa e é sujeito dos seus atos, mas sempre considerando o outro. Aliás, segundo a própria filosofia Kantiana da história, o desenvolvimento histórico do homem tem um fio condutor que corresponde a um desígnio ou finalidade da natureza: a perfeitibilidade da espécie humana que deve ser atualizada, e deve passar de potência a ato. Já para o filósofo Jean-Jacques Rousseau, que viveu numa época em que não existia luz elétrica e muito menos as tais infovias contemporâneas, as respostas a estas perguntas podem ser respondidas da seguinte forma: O homem nasce livre, e por toda a parte encontra-se a ferros . Ele quis dizer assim que o homem possui uma natureza boa, mas que é corrompida pelo processo civilizador, a tal sociedade/urbanidade/polis. Rousseau na verdade não construiu um sistema filosófico como Aristóteles ou Kant, mas apresentou contribuições originais também à filosofia, e à teoria política, influenciando movimentos intelectuais europeus como a própria Revolução Francesa. Sua teoria da chamada bondade natural do homem foi motivo de críticas por parte de filósofos, como Voltaire. Contudo sua obra é direcionada aos poderes exacerbados da razão e da ciência, e ele foi o primeiro pensador a questionar em plena vigência do Iluminismo. Na verdade, é comum agirmos de maneira polida e educada, mesmo quando dissimulados ou falsos pretendemos prejudicar, manipular ou levar vantagem sobre os outros. Para Rousseau certas normas sociais estabelecidas nos grandes centros urbanos afastaram o homem de sua verdadeira natureza. O caminho para este conhecimento primordial é o sentimento, e não a razão, ou o progresso científico. A razão põe ordem no mundo em demasia, segundo o filósofo francês. Era preciso então sentir o mundo. E qual a forma de fazer isso, senão buscando uma comunhão com a natureza, que em suas formas é a mais pura expressão de sentimento e da liberdade, quando somos sentidores, por exemplo, ao contemplar um pôr-do-sol, um voo de pássaro, uma aurora cor de lírio laranja, ou quando caminhamos descalços na areia da praia? Ao afirmar isso Rousseau rompe com toda a tradição do determinismo, proveniente de uma linha de raciocínio e lógica que começa com Bacon e Galileu até Newton e Einstein, e que concebia o universo como um relógio preciso. Seria necessário então - voltando à questão primordial - abrir mão de toda comodidade dessa nossa falsa-cômoda e paradoxalmente sedentária vida moderna. Como fez, aliás, a própria personagem Danielle Rousseau do seriado Lost (Perdido), inspirada na obra do próprio filósofo.