<p>Nas páginas de <em>Outras peles</em>, do mineiro Lucas Guimaraens, poema após poema, revelam-se outras faces do que somos: cada um é fruto do encontro entre muitos, diversos entre si, que nos tornam únicos. Mais do que se abrir à alteridade, ao poeta interessa vasculhar cada recanto de si em busca dos “restos e estrelas e fraturas” deixados por aqueles que vieram antes, mas também por aqueles que nos cercam e, mais do que tudo, nos atravessam e constituem.</p>
<p>Em sua investigação poética das “outras peles” que nos cobrem, Guimaraens sabe que “sangue é ninho de poesia” e, por isso, se lança à tarefa radical (rumo às raízes!) de desmontar aquele que, até então, chamava de “eu”: “seria possível/ refundar o amor com tantas peles?”. É a trama dos poemas, entre pele e sangue, que revela o outro, revelando também outros em nós: “como/ quem olha pela primeira vez/ o próprio corpo”.</p>
<p>Cada poema é parte daquela “obra de arte não decifrada no intangível/ das ruas sem tempo/ a colher pesadelos e sonhos”. Enquanto se move entre os cômodos de tantas casas perdidas no tempo e joga luz sobre os rostos em que vê muito de seu próprio rosto, Guimaraens se depara com os “silêncios sobrepostos” que cercam cada palavra e percebe que algo ali quer cantar — cabe ao poeta, então, levar cada palavra até o ponto exato em que nossas peles mais profundas cantem. Toquem. Ouçam.</p>