Eis aqui, caros leitores, OUTONO LACERADO, o primeiro livro de sonetos de Gerailton Cavalcante. Uma revolução na arte de sonetar. De fato um livro que vale a pena adquirir. São 149 sonetos em um trabalho profundamente bem construído, de modo que só quem nada entende de poesia, não perceberia a nítida e impressionante maestria do autor na composição de sonetos. Na presente obra, a cada soneto que se lê é perceptível a maneira como o autor vai se superando nessa arte, marchando a passos largos para ocupar o posto de um melhor dos poetas dos tempos hodiernos na literatura brasileira. A subjetividade exacerbada, querendo dizer sem dizer, é a marca registrada do autor, uma constante nesta obra. Fazer soneto é, na verdade, dialogar consigo mesmo e disto o poeta está ciente, pois cada soneto seu é um auto-dialogo. Cada soneto que aqui lemos empata em beleza ou supera o anteriormente lido. Aqui, pois, conseguiremos visualizar lindíssimas e profundas imagens onde certamente nos veremos em algum verso. Algumas imagens quando lemos Gerailton, imagens essas pintadas em 14 versos, ficam se contorcendo em nossa mente, e se reviram e se metamorfoseiam, tentando ganhar uma forma definitiva, mas a cada forma nova que ganham nos dão um novo sentido poético a cada um dos sonetos. Vale dizer aqui que este é um dos mais belos trabalhos já publicados no CLUBE DOS AUTORES. Como comprovação disto, de todos os sonetos publicados nesta, mesmo não classificando nenhum deles como o melhor de todos, há um destaque especial para BUSCA IMPACÁVEL. E sobre este, o autor até poderia ter plagiado Geraldo Vandré e ter dado ao soneto o título PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE FLORES. Pena que Vandré teve a ideia primeiro, e GERAILTON como um poeta original não quis se submeter a um plágio tão elegante, diga-se de passagem. Mas já pensou como o título da música de Vandré cairia como uma luva em seu soneto. Fala de busca, fala de pavor, fala de clausura, fala de desilusão, fala de insatisfação, fala de espanto e muitas outras coisas, mas ninguém poderá dizer que não falou de flores ( será feita de cardo ou de jasmim? ). Para que o leitor mesmo o comprove, segue abaixo o mencionado soneto na íntegra: BUSCA IMPLACÁVEL O que busco, enfim, dentro do meu peito? Por que sempre essa busca me tortura? Por que causa essa busca uma apertura que me faz mais e mais insatisfeito? Se introspecto a busco, em meu leito, me imerso na mais terrível clausura: um quadro de apavorante pintura me expulsa como invasor e suspeito! O que busco com tanto desencanto? E esta desilusão que me invade será feita de cardo ou de jasmim? Que paixão vil é esta? Que espanto! Temo um dia encontrar esta verdade e em lamento ter que evadir-me de mim! As metáforas aqui construídas dão-nos uma ideia do que seja a alma incompreendida de um poeta. Alguém já disse certa vez que há mais mistérios no olhar de uma mulher do que nas profundezas do mar. Mas, numa reflexão mais profunda sobre este pensamento, entendemos que há mais mistérios ainda na alma de um poeta do que no olhar de uma mulher. Basta ler alguns dos versos deste soneto e de tantos outros que compõem esta obra. Claudeciano Alves Ferreira.