O futebol trilhou os caminhos do capitalismo industrial. Introduzido como esporte e apreciado por setores privilegiados da sociedade, o futebol difundiu-se no primeiro quartel do século XX entre as camadas mais populares do Brasil. Apesar da ação repressiva governamental, é provável que a nascente burguesia industrial brasileira tenha observado na prática um elemento capaz de promover suas marcas, além de disciplinar operários ao promover a ocupação do seu tempo de lazer e impulsionar o gasto de energia dos mesmos com atividades desvinculadas da produção fabril, em plena fase de explosão do movimento operário brasileiro. A partir da década de 1930, o Estado brasileiro, sob o comando de Getúlio Vargas, conteve as mobilizações promovidas pelos trabalhadores ao enquadrar tanto a classe operária quanto a burguesia industrial sob seu controle; para tanto, um dos elementos utilizados foi o futebol que, além de instrumento de desmobilização política, serviu à edificação de certa identidade nacional, não sem o uso da mídia, em pleno período do Estado Novo (1937-1945). O sucesso do Brasil na Copa de 1938, realizada na França, teria dado consistência às intenções varguistas; a partir daí, manteve a tradição de ser usado nacional e regionalmente. A obra analisa como, no Brasil, o futebol ganhou consistência entre populares e trabalhadores, proporcionado por indivíduos e grupos, não sem interesses, e como tal base serviu às ações varguistas, não sem devolutivas, traçando os caminhos percorridos pelo jogo da bola (desde sua introdução até sua espetacularização contemporânea) em um país desigual, onde a alguns cabe o entretenimento e a poucos os benefícios de uma paixão enraizada.