Neste magistral romance de filiação, Anthony Passeron mescla pesquisa sociológica e história íntima para retraçar o passado recente e trágico de sua família e reconstituir o momento histórico da descoberta do vírus HIV no início dos anos 1980.
Entre segredos guardados, lampejos de memória e emoções obscurecidas pelo tempo e pela vergonha, o escritor francês mergulha no mistério que circunda a morte de seu tio Désiré, que era dependente de heroína, e emerge com um drama coletivo cujas feridas permanecem abertas até hoje. Profundamente inspirado por Annie Ernaux, Passeron retrata a ascensão social de seus avós, originários de famílias camponesas que, ao longo de suas vidas, ascenderam a comerciantes em um vilarejo próximo a Nice, na França.
Entrelaçando as duas narrativas, ele também reconstrói de forma eletrizante os primeiros casos de sintomas do HIV e reconta a batalha travada por médicos franceses e estadunidenses contra uma doença desconhecida e letal, impregnada de estigma e preconceito.
O medo da morte iminente e da desonra, somado ao rastro de destruição deixado pelo vírus e pela heroína, são temas centrais. Com sua narrativa incisiva, Passeron revisita o trauma, expondo o terror e os danos causados pela desinformação. "Uma mãe que garante que seu filho não sofre de uma doença de homossexual e drogado. Um filho que diz não se drogar mais. A cada um seu território: aos médicos, a ciência; à minha família, a mentira."
Os meninos adormecidos é um romance comovente, que evoca a solidão das famílias em uma época marcada pela completa ignorância sobre o vírus, a negação avassaladora e a marginalização dos infectados.