Fabián Casas é uma espécie de J.D. Salinger de Boedo, bairro tangueiro de Buenos Aires repleto de imigrantes e Q.G. do Club Atlético San Lorenzo, onde se passam as histórias deste livro e de outros mais do surpreendente poeta, cronista e ensaísta argentino. Nelas, a adolescência nos anos 70 e a juventude dos 80 encontram seu crisol poético, dando forma à matéria-prima de uma mitologia pessoal. Livro de memórias ou ficção transformada pela lembrança, Os Lemmings e outros trafega pela épica da delinquência – campinhos de futebol, fábricas abandonadas, terrenos baldios, brigas de gangues e o primeiro amor –, por algo que nunca é dito, apenas intuído. O boedismo zen, inventado pelo japa Uzu, por Máximo Disfrute, gordo Noriega, o tano Fuzzaro e outros lemmings, é feito de fábulas, anedotas e aventuras. Com poderosa oralidade, Casas recria um mundo não muito longe da Budapeste habitada pelos meninos da rua Paulo, criação do húngaro Ferenc Molnár, ou do deserto de Sonora no qual se ocultam os detetives selvagens de Roberto Bolaño.
Como explica o próprio Fabián Casas: "Sou mais leitor que escritor. Durante trinta anos escrevi sem que ninguém reparasse em mim, isso foi salvador, me permitiu estudar os grandes poemas, reler meus próprios versos. Agora escrevo pouco, apenas quando escuto a musiquinha em meu ouvido. Nos outros dias pratico caratê, uma disciplina que te permite manter o equilíbrio. Para mim a literatura é algo coletivo, não individual. Me inspira tanto Bob Dylan ou Joan Manuel Serrat quanto a genial Holanda de Rinus Michels e Johan Cruijff."