Rubens Glasberg reúne em livro memórias de uma geração que conheceu de perto o lado mais cruel e desumano da humanidade.
Nos terríveis anos do nazismo, Elisa Klinger e Hans Glasberg se conheceram num navio, a caminho do Brasil. Eles são dois dos milhares de judeus que compreenderam a extensão do perigo que corriam na Europa e não mediram esforços para sair do continente. Ela portava uma das centenas de vistos diplomáticos que o embaixador Luiz Martins de Souza Dantas concedeu para salvar vidas, contrariando diretrizes do Estado Novo; ele era uma das centenas de judeus salvos pelo acordo celebrado entre o governo brasileiro e o Vaticano para acolhimento no Brasil dos chamados “católicos não-arianos”.
Muitos anos depois de sua chegada no Brasil, Elisa registrou a memória do que viveu, ao contrário do que aconteceu com muitos judeus, que, compreensivelmente, preferiram silenciar sobre essa experiência tão traumática. Com isso, Elisa acrescentou algumas peças ao quebra-cabeça da História.
Neste livro, Rubens Glasberg fez mais do que apenas reproduzir a história dos seus pais, a partir do relato de sua mãe. Às memórias da família ele somou uma pesquisa de fôlego e a inseriu no contexto dos acontecimentos que marcaram a Europa no começo do século XX e culminaram no Holocausto. Mostrou o Velho Mundo desmoronando e sendo reorganizado com a força bruta da barbárie nazista; ressaltou o que o ser humano tem de pior, mas também a dignidade e a generosidade de muitos.
Para o autor, é possível traçar alguns paralelos com os dias atuais, como com o desemprego, o empobrecimento e a insegurança da chamada classe média temerosa de cair na escala social. “É um caldo de cultura para a discriminação racial e do imigrante, além dos demais preconceitos e ódios semelhantes aos do fascismo e nazismo dos anos 20 e 30 do século passado que resultaram no Holocausto"", afirma.
No caso do Brasil contemporâneo, o autor também vê semelhanças: ""Ao analisar o colapso da IIIª República e o antissemitismo na França, vejo que a fraude processual do caso Dreyfus e suas consequências políticas têm aspectos comuns com o resultado das acusações e julgamento em Curitiba do ex-presidente Lula. Os dois episódios acabaram numa divisão irremediável da sociedade"", completa.
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