Este livro apresenta uma etnografia sobre as performances musicais de cantoras calchaquíes anciãs, conhecidas como copleras, na Comunidade Indígena Amaicha del Valle (Província de Tucumán, Argentina).
Baseada em pesquisa musicológica realizada entre 2012 e 2015, esta obra analisa as epistemologias que orientam essas mulheres na feitura de seus cantos, desvelando como, orientadas pelo princípio da reciprocidade, dissolvem as fronteiras entre Natureza e Cultura, por meio destes agenciamentos voco-sonoros, informados pelas potências afectivas do território sociocosmológico que habitam e do qual elas próprias são propriedade indispensável.
Como herdeiras de uma genealogia do pensamento descolonial, as copleras são guardiãs de saberes que elaboram por meio do nexo estratégico entre lugar e pensamento e, desta posição, nos convidam a um exercício reflexivo para além da perspectiva sobre a música enquanto sons humanamente organizados, desafiando-nos a experimentar formas expandidas de ouvir o mundo ao nosso redor.
Através de seus cantares e trajetórias de vida, que reverberam desde um território historicamente marcado pelo colonialismo, as copleras apresentam questões sobre o poder da performatividade vocal, o devir dos corpos cantores e o sentido cosmopolítico de lugar, por uma perspectiva amaicheña-calchaquí.