Em 1959, 12 países com forte histórico de interesse na Antártida assinaram entre si um tratado que estabelecia que o continente estivesse aberto àqueles países que o assinassem e desejassem realizar pesquisa científica com fins pacíficos. Apesar de erigir a ciência e a cooperação internacional como fundamentos, o tratado suscitou polêmica por acolher reivindicações de soberania sobre o território antártico e excluir do processo decisório todos aqueles países sem condições financeiras e técnicas de montar estações científicas no local. O livro Onde a Ciência é o poder: O Sistema do Tratado da Antártida e a Cooperação Científica Internacional analisa como, apesar de um começo marcado pelas críticas de exclusividade, o Sistema do Tratado da Antártida (STA) conquistou legitimidade como regime internacional. Nosso objetivo é verificar se a pesquisa científica acabou por funcionar como ferramenta de exclusão política ou se o STA foi capaz de promover a cooperação científica internacional, tal como estava previsto na sua letra original. Para tal, realizamos um estudo de caso analisando os artigos em coautoria internacional de uma revista britânica, a Antarctic Science, no período de 1989 a 2014. Os resultados revelam que a coautoria internacional na revista é mais alta do que a que se encontra no campo da ciência e tecnologia em geral, o que indicaria a eficácia do regime nesse quesito e confirmaria alguns dados de pesquisas bibliométricas. Também observamos que as assimetrias na produção científica sobre a Antártica não procedem apenas de desigualdades econômicas, mas de interesses políticos divergentes em relação ao continente.