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Olho reavido

Olho reavido

Sinopse

amar sem ter

            é paradoxo de tempo e espaço

            é sismo sem magnitude

amar sem ver

amar sem nunca saber

            é o oco do solilóquio

            é o virtuosismo do mormaço

amar sem haver, sem nem refúgio nem regaço

            o solipsismo do osso

            o insosso do avatar

amar sem contemplar

amar sem abraço

            é o aço do estoicismo

            é esboço de amar, ameaço

amar sem abranger

            é a armadilha da troça

            bagaço de amar, sobrosso

amar sem ter vossa mercê

            haver-se assim não se possa

amar sem ser

O "olho reavido" deste novo livro de poemas de Luci Collin preenche o espaço entre o dito e o não dito. Luci ousa na escolha do que enuncia e no silêncio que fala ("o justo pejo do silêncio honrado na palavra feito olho"; "luz sem sombra, silêncio bruto"). Da leitura das imagens dos poemas, concluímos que o olho não é incisivo, que pode ser de "pérola e espanto", pode ser um coração que sangra e ser ilusório o que vê. Enxerga os entardeceres e o escuro, o da "noite solitária e cega" de uma epígrafe de Agrigento.

"Um olho de alcance enigmático e admissível" está também no esquecimento e na memória, "engenho e abrigo" que tornam presente a ausência. "Protege contra lembranças mutiladas", segue os caminhos da melancolia e do desejo e vê a história fugir "nalgum cavalo fátuo porque tem seu próprio alfabeto." Memória "de baú primitivo" ("sou longe e existida"): o que já foi e dolorosamente falta.

João Almino