Traduzida no Brasil pela primeira vez neste volume que reúne duas novelas breves, a obra ficcional de Copi é um delírio cômico com velocidade de HQ e ritmo de desenho animado. Aqui temos o início e o final da carreira do argentino: O Uruguaio foi sua estreia em 1973. Depois de outras seis novelas e diversos contos, A Internacional Argentina (1988) atou os cadarços de sua produção literária, encerrada precocemente com sua morte em Paris (1987).
O Uruguaio é um relato em forma de carta escrita com toda urgência, pois seu autor reporta o cataclisma que atingiu o Uruguai (um tsunami de areia o encobriu por completo) e seu posterior ressurgimento. Ao destinatário, o remetente Copi pede que risque "tudo o que vou escrever à medida que for lendo", pois "ao final da leitura irá restar tão pouco desses livro na sua memória quanto na minha". Memorial do futuro, é um vibrante registro do estranho lugar ocupado pela república oriental no imaginário cisplatino, o de país-margem.
A Internacional Argentina narra o encontro entre Nicanor Sigampa, o gigantesco negro multimilionário argentino que financia uma sociedade secreta no estrangeiro, e o poeta indigente Dario Copi. Sigampa pretende conduzir Copi ao seu lugar natural, a Presidência da República, em uma chanchada burlesca na qual o autor pratica o esporte nacional hermano: achincalhar com o próprio país.
Com sua obra escrita quase integralmente em francês, Copi traz à coleção Otra Língua um traço da história política da América Latina do século XX, ao lado de A sinagoga dos iconoclastas, de J. Rodolfo Wilcock (escrita em italiano): a adoção da língua do exílio. Guru vanguardista de Enrique Vila-Matas (seu tradutor ao espanhol), César Aira, Juan Pablo Villalobos e Laerte Coutinho, Copi é um mestre da provocação satírica e da demolição dos dogmas.