Este título reúne dois contos marcados pela delicadeza com que a autora observa memória, afeto e passagem do tempo. Em ambos, a vida é tocada por lembranças que insistem em retornar, como quem chama suavemente pelo que já foi.
Em "O último discurso", acompanhamos o médico e orador Dr. Paula Guedes em seus dias finais. Enfraquecido pela doença e distante das glórias do passado, ele recebe inesperadamente o convite para discursar no Instituto, e a notícia reacende um sopro de entusiasmo. A preparação da fala, o movimento da casa e o retorno do prestígio antigo devolvem sentido ao presente, fazendo do discurso um fio de vitalidade num corpo que anuncia despedida.
Em "No muro", Maria Teresa observa o quintal sob o brilho suave da noite, e o muro branco diante dela se torna uma tela onde o passado retorna como lembrança viva. A infância ressurge em cheiros, sons e imagens, sobretudo na figura de Teodora, a mulher escravizada que a criou com firmeza e afeto. Cada memória chega como um desenho de luz, revelando o laço que moldou sua história e o que permanece mesmo quando o tempo tenta apagar.